Humanizar e esperançar- O que temos para oferecer?
Hospitais de campanha, profissionais exaustos, número de leitos ocupados aumentando e o amor pedindo abrigo.
Não se pode negar o quão desgastante é o trabalho dos médicos, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, enfermeiros, assistente social e de toda equipe hospitalar que já não sabem como e quando essa pandemia vai passar e enfim tudo voltar ao normal. É o desgaste físico, mental, a necessidade de obedecer a técnicas e regras, perda de sono, apetite, e ainda falta do aconchego do lar. Como não honrar uma profissão que tanto trabalha pelo outro? Faz-se necessário elogiar, aplaudir e valorizar por tudo e por tanto.
Nessa “carga" de desgaste, porém, mora um grande inimigo e perigo eminente: a falta de sentimentos que aqueçam a alma de quem doa e mais ainda, daquele que precisa. A rotina, o costume de lidar com doentes e até mortes, pode “normalizar” algo que jamais será aceitável, a perda. Estar em cima de um leito de hospital, completamente dependente, vulnerável, sem saber como serão suas próximas horas, longe de parentes e familiares, sem poder conversar ou apertar a mão daqueles que amam, sem poder falar, pedir perdão, dizer o que sente, sem saber se ainda terá chance, é algo cruel e muito real nos últimos tempos. É esperar sem esperançar. Esperar que o cuidador, (aquele que cuida naquele momento), sinta sua dor, suas inquietações e lhe ofereça um pouco dos sentimentos que fazem bem ao coração e tem o poder de arrancar sorrisos, o amor. Esperar que mesmo no leito, possa ouvir sorrisos, sentimentos de vida e um fio de credibilidade a favor da vida. Desejar sentir no outro, mesmo através de gestos, que tudo vai ficar bem.
Nada pode ser maior e mais sublime que o desejo de viver. Esses sentimentos e atitudes precisam virar rotina nos corredores dos hospitais, precisam virar práxis no ofício do trabalho, precisam perpassar os procedimentos e técnicas exaustivas e necessárias. É imprescindível o zelo pela vida. Esboçar um sorriso, conversar mesmo que não obtenha respostas, tocar com suavidade toda vez que for medicar, cantar uma música, procurar saber o que gosta de fazer, falar sobre a família e até possibilitar de alguma forma essa proximidade, se preocupar, mostrar empatia, ser simpático, cortês e gentil, são pequenas atitudes que alimentam a alma e o coração daquele que muitas vezes já deixou de esperançar. Nunca é tarde para um exame de consciência e autoanalise daquilo que muito se sabe teoricamente e que pouco se aplica na prática. O amor pede abrigo! Mesmo na correria da vida e pela vida, mesmo na preocupação de acertar e fazer jus aos atendimentos ao paciente, não se pode deixar de entender e se colocar no lugar do outro, exercer a empatia. Tais atitudes nos tornam mais humanizados.
Quando tudo isso passar, e vai passar, tudo será recompensador. Terá valido a pena amar por opção e sem delegar condição. O tempo trará lembranças e relatos à memória, de momentos vivenciados e marcados por sentimentos que embora tristes, fez desencadear o bem, a sutileza e o amor dentro de você. Entendamos pois, que estamos numa semeadura, onde as sementes precisam ser semeadas diariamente e os frutos serão colhidos na estação própria ou em tempo oportuno. A vida do outro é tão importante quanto a sua! Dê o seu melhor para aqueles que necessitam de você, talvez aquele momento será o último momento de vida dele. Reflitam!!!
Texto escrito no dia 07/03/2021